quarta-feira, 10 de junho de 2009

Sem Pio

Olá amiguinhos!

Após quase um mês de ausência, ainda desolado com o fim de scrubs, é com alguma alegria que venho partilhar convosco um projecto por mim realizado, com a ajuda da minha bela namorada e três colegas (um especial obrigado ao Nuno, o actor da trama). Trata-se de uma curta metragem, elaborada para a disciplina de Cinema, estando eu a 'tirar' o curso de Jornalismo (embora seja mais para o lado da escrita criativa que quero cair).
De salientar que o som ainda não se encontra na sua fase final. Irei regravar a voz, que está demasiado apática e monocórdica, e regular melhor o volume musical.

Assim sendo, aqui fica o video, que trata da angústia de perder alguém, dividido em dois, devido às limitações do you tube.

Parte 1



Parte 2




Guião:

Foi fogo. Sim, foi fogo que acordou o rastilho para a tua suave eclosão. Em tons de amarelo surgiste e em incolor nevoeiro em mim perpetuaste. De delicado feno criaste o ninho em que nos tornámos eternos. Mas afinal, nada é eterno. Para sempre vivemos. Mas para sempre foi um instante. Nada perdurou. Tudo acontece no tempo de um cigarro. E tu aconteceste numa baforada.
Não pergunto ‘porquê tu?’. Todos vamos desaparecer um dia, mais tarde ou cedo. Pergunto antes ‘porquê a mim?’. No meio de tanta gente, porquê logo eu? No meio de tanta tragédia, porquê escolher logo este desgraçado? Que deserto este em que me deixaste que nem oásis de ti despontam. Que deserto este que nem o sol quer aparecer e sozinho eu merecer estar.
Podíamos ter sido mais. Ter ido onde nunca ninguém me levou. Mas num voo picado, sem esteira nem rede, sem cama nem colchão, foste onde não te posso trazer de volta. E eu… eu… que podia eu fazer? Se ainda aí estiveres, desculpa-me.
Não há garrafa que valha o que não fiz por ti. Mas aquela garrafa… tinha que ser aquela, apenas aquela. Aquela garrafa custou o teu adeus. Podia ser mais um desencontro de ideias ou uma dissertação de erros meus. Mas não. Foi apenas aquela garrafa. E aquela luz. E aquele travão. Que me travasse antes a mim…
Voavas sem parar, sonhando ou não. Mas logo naquele dia tinhas que experimentar o conforto de um Astra. Logo comigo é que tinha que acontecer. Afinal, que mal assim tão grande fiz eu, Deus? Deus? Que Deus… que Deus este rouba os seus mais perfeitos filhos no despoletar da vida! Que Deus este que nos cortou como um folha velha. Que nos queimou como um tronco seco. Que nos rasgou como… como… Era apenas uma garrafa, duas no máximo, iguais a tantas outras…. E pagaste tu por isso. Agora cobro eu essa conta. Conta duma morte que eu próprio encomendei, mesmo sendo outra mente que possuía o meu corpo. Outra mente e duas garrafas. Só duas. E não foi a falta de aviso. Bem me dizias que elas ainda nos iriam matar aos dois. Poucas vezes havia erros nas tuas palavras, mas as metáforas nunca foram o teu forte. Já eu usava-as para dissimular todas as vezes que as garrafas me tocavam. Era esse o meu forte e não as minhas músicas, como tu tanto defendias. Eras a única a ouvi-las. Eram só tuas, pois para mais ninguém tocava. Num só acorde e a tua atenção era só minha. Soltava um Sol, já te tinha a meus braços. Alternava entre um Dó e um Fá e a noite era nossa. Ao fim de um Mi a melodia envolvia-nos e entre Rés e Sis pairávamos sobre o nosso reino sagrado. O nosso ninho. Com um dedilhado de Lá matei-te. É neste enredo sem regras que os mais fortes perecem e os mais fracos se juntam à volta da fogueira e se enaltecem em bélicas melodias.
Não fomos criados para viver nesta era. Nunca serias escrava de ninguém nem gladiadora para ninguém. Nunca serias plebe nem povo. Não! Noutra era serias Spartacus ou Leónidas. Serias a voz de uma nação como foi William Wallace. Não serias Cleópatra, porque ela cairia a teus pés. Na nossa era, apenas tiveste tempo de salvar uma putrefacta alma que para te agradecer, te cortou o pio. Com que direito? Se alguém tem o direito de excluir do nosso presente, que sejas tu. Tiravas-me um fardo de cima, já que o de te perder não sossega.
O difícil que é ter-te apenas na recordação e não te poder materializar. Mais difícil é não te poder mais ver pelos céus, posando em nuvens de veludo e acariciando-me com palmas de ceda. Eras feita de casca de ovo. O que nos riamos por causa disso. Tão frágil para tanto tamanho. Preenchias-me de tal forma que pensei clonar-me, porque não havia mais espaço dentro de mim, de tanto que ocupavas. E agora? Desapareces e permaneces em mim? Quão justo pode ser? Mas afinal, o que é a justiça na morte? É uma criança morrer a brincar no jardim e um terrorista sobreviver no meio de explosões? Se há justiça neste presente, ainda está para chegar dum futuro ainda sem sombra.
Porque é que não passa? Esta dor intensifica-se a cada lufada de ar e já me agonia o pensar em respirar. Cada vez sinto menos vontade de o fazer. É como agulhas que se cravam pelo corpo adentro, tatuando um horrendo ardor que nem o frio polar conseguirá cessar. O mal que me fazes. Contigo aprendi a sorrir quando me apetecia fugir de tudo. Não fossem aquelas garrafas e podias tentar mais uma vez. Mas agora, se sorrir, desvaneço. Puxo um cigarro e logo a seguir vem outro, sempre à espera que me peças para largar isto de vez. Mas este sempre transformou-se numa eternidade e tu nunca mais me pedirás tal coisa. Apenas o vento me lembra que ainda sinto. Levaste contigo tudo o que de mim restava e agora sou um saco vazio, outrora recheado de compras, hoje voando ao sabor do vento. Ao menos que te encontre numa nuvem. Mas não estás lá. Eu fiz com que nunca mais estivesses. Para me lembrar de ti, incendeio-me em mais um cigarro e penso no bem que me fazias evitando que eu o fumasse. Já viste isto? Já só falo de ti no passado. Mas cada vez mais sei que és futuro.
Enquanto vou pela estrada, imagino o tipo de pessoa que serei sem ti e a minha única salvação está na gentileza de um atropelamento. Mas a cena não se afigura na minha cabeça. Sabes que nunca gostei de dar nas vistas. A caminho de casa lembro-me que estou com fome, e a ideia de saltar refeições parece-me à primeira vista a saída desta prisão. Mas chegaria mais rapidamente ao inferno na terra do que às nuvens contigo. Tento livrar-me destes pensamentos, mas foste tu que começaste. Sabes que a morte sempre me assustou, mas agora apenas a tua ausência me atormenta e a morte não passa de uma mosca. Estou mais que cansado e uma cama fazia-me bem. Mas tu estives lá. O cheiro continua intenso e consigo mesmo ouvir a tua voz. Então, porque raios não te sinto?
O caminho até ti parece encurtar-se, mas a estrada continua longa e não sei se é uma jornada que eu queira fazer. A reflexão é madrasta mas a tua ausência também. A escolha é minha.
Até já, meu amor.

10 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pelo teu trabalho, meu bem.

@

Anónimo disse...

Parabéns.

Apontamentos:

1) certas partes assemelham-se muito a ti /demasiado.
2) O nuno é muito parecido contigo =)
3) A música está com variações de intensidades muito agressivas.
4) o teu forte não é a leitura (texto M'bom, leitura/timbre: médio'B) mas eu sei que comigo concordas.
5) arrepiei-me com o final
6) A sócia dele era a Poupas? x)
7) Muito bom o jogo de câmaras - o trabalho que não deve ter dado.

Até logo*

.feio_do_irc.

Foo disse...

bebé feioso! Em primeiro lugar, folgo em saber q estás vivo e aparentas estar bem! Em segundo, como descrevi na pequena introdução do posto, o som vai ser todo refeito, pq após uma noite em branco, é natural q o q me apetecia mais era gravar vozes! :P

luv *

R. disse...

Mas adorei :) Good work!

Aproveito para dizer que também estou em estado de pânico exacerbado com laivos de agressividade maníaca por causa do Scrubs.

*

Foo disse...

Muito Obrigado! =D

Em relação a scrubs.. ainda ontem tive a a infeliz ideia de rever a ultima lufada de scrubs e todo eu tremia de... não sei bem de qê..

Não dá a sensação q um parente próximo morreu? enfim!

JC disse...

Lindo!

O texto está genial, o fim com o poupas já deu origem a muitas gargalhadas, mesmo.

E já mencionei que o texto está maravilhosamente bom?

=)*

Leonardo disse...

Criticas de um pseudo-intelectual, que na verdade perceb muito puco de muita coisa:

1 - ao vaiares a intensidade da música em backgroud, com o discurso a com a falta dele, crias-te momentos que se tornaram um pouco sujos, fazendo assim notar a pouca edição que uma curta des genero padece.
2 - A voz off tem muitas variações de intensidade, ou seja, de inicio sentesse tensao e sentimento, mas com o prolongar do texto, que e muito bm, notasse que por vezes parece estar apenas a ler.
3 - nos planos parados, deveriam ter usado um suporte para diminuir o tremor e os movimentos invariaveis das maos e corpo.
4 - nas cenas em que movimento do personagem, como aquele em que o suicida sobe a rua, a camara nao deveria ter seguido o personagem, mas sim ter usado varios planos, durante a subida.
5 - último bagulho pa voce, para uma imagem bonita e intelectualoide da coisa, sempre que a personagem entra ou sai de cena, deve faze-lo pelos cantos do frame, fica mais catita lol

agor que ja tentei mordazmente esmagar o teu ego, digo em primeiro lugar que gostei bastante da curta, e bastante envolvente. em segundo lugar, desefio qualquer um a encontrar um tituo de comentário/intro tao grande como a minha!

Foo disse...

Percebo e aceito todas as tuas criticas, pq antes de tu as teres feito, já as tinha feito eu (algumas patentes no texto introdutório do post). Mas volto a frisar q me armei em grande português e fiz as gravações, montagem, texto, voz, edição e td mais em 3 dias. Sei q a culpa n deixa de ser minha mas pronto! Portuguesices! Quanto ao som, já tá gravado em qualidade bastante superior (quer em qualidade em si, quer em intensidade dramática) e com pequenos extras, q actualizarei mais tarde no blog, quando concluir a edição.

E epah! Very's tankius por vires animar este meu espacinho q ja n sabia o q era um comentário.. olarilas! xD

luv*

Leonardo disse...

Sabes que faço tudo por ti meu rapaz, ja ca tinha vindo, mas so agora comentei (shame on me!). mas de ora em diante comentarei fielmente os post, se quiseres ideias para post, eu dou-te-as, seria como um hidden bear lol

milpalavrassemsentido disse...

Sem palavras !
Este mar ! Que bem sabe ouvir este enlace de palavras e som !

Parabéns :)